Os impactos das alterações climáticas são cada vez mais visíveis, afetando as populações e as regiões, tando a nível ambiental, como em termos sociais, económico e financeiro.

Conscientes desta realidade, não é de admirar que as empresas procurem perceber de que forma estes novos cenários afetam as suas atividades, os seus modelos de negócio e as suas relações com os stakeholders.

Segundo o Global Risks Report 2024 do World Economic Forum, dois dos 10 maiores riscos percecionados pelos líderes empresariais para os próximos dois anos, relacionam-se com questões ambientais. Alargando o horizonte temporal para 10 anos, as preocupações são ainda mais evidentes com os temas associados a um potencial falhanço na mitigação e adaptação climática, e ao aumento dos desastres naturais e dos eventos climatéricos extremos a assumirem-se como os quatro maiores riscos societais.

Urge, por isso, que as Organizações desenvolvam esforços que permitam capacitar as suas estruturas para uma resposta inequívoca a este desafio. Avaliar, quantificar e estabelecer planos robustos de mitigação e adaptação aos riscos climáticos é o primeiro passo a dar pelas empresas, independentemente do setor.

No entanto, este é um processo desafiante. A multiplicidade de efeitos é enorme, merecendo consideração tanto riscos de transição, como físicos. Se no primeiro grupo surgem questões legais e regulamentares emergentes, tecnologias inovadoras e disruptivas, transformações económicas e dos mercados financeiros e aspetos reputacionais, no segundo, é crucial analisar os efeitos que os eventos climatéricos extremos e as transformações crónicas dos ecossistemas podem representar nos modelos de negócio. A somar a esta complexidade, teremos ainda de equacionar como é que estes temas se refletem na cadeia de valor, quer a montante quer a jusante das operações próprias.

Tendo em consideração a elevada interdependência entre todas estas variáveis, é também fundamental perceber-se como a severidade e probabilidade de ocorrência destes riscos, pode variar em função dos vários cenários de evolução climática. Existem, hoje em dia, bases de dados alavancadas em modelos climáticos revistos cientificamente, que permitem visualizar probabilidades de ocorrência de fenómenos climáticos (sejam períodos de seca, inundações ou outros) associados aos diferentes cenários de evolução da temperatura terrestre e que devem alimentar os modelos de avaliação, quantificação de riscos e planos de mitigação e adaptação das organizações, juntando a visão de negócio à ciência de forma pragmática.

A verdade é que existem também múltiplas vantagens nesta transição, a serem capitalizadas pelas empresas. A aposta em sistemas de autoprodução de energia renovável apresenta retornos de investimento notáveis, gerando fortes ganhos ambientais e económicos. O investimento em medidas de descarbonização dos processos internos está, muitas vezes, correlacionado com ganhos de eficiência assinaláveis nos modelos produtivos. A priorização de matérias-primas com emissões de gases com efeito de estufa, potencia a criação de produtos diferenciados, de alto valor acrescentado e com grande procura. A indexação de empréstimos financeiros ao desempenho ambiental possibilita, em determinados casos, bonificações nas taxas de juro. O estabelecimento de metas e a materialização de ações concretas de mitigação e adaptação climática, traduzem-se em ganhos reputacionais junto dos clientes e parceiros comerciais. A internalização deste risco nos processos permite uma melhor tomada de decisão (em particular nas decisões de investimento a longo prazo). Enfim… existe uma infinidade de áreas passíveis de serem seguidas pelas Organizações e capazes de gerar, não só impacto climático positivo, como fortes ganhos económicos e sociais.

 

Em suma, a transição climática pode ser vista de duas formas: ou como um risco desestabilizador, ou como uma oportunidade de diferenciação. A escolha está ligada à forma como as empresas encarem este desafio. Hoje, conhecemos o custo que as alterações climáticas acarretam se nada fizermos, assim como o investimento necessário para evitar os cenários mais dantescos. A diferença é clara. Cabe às empresas (e a cada um de nós) desenvolver esforços ou ferramentas, como é exemplo o Guia Empresarial para a Gestão de Riscos e Oportunidades climáticas do BCSD Portugal, para mitigar o seu impacto ambiental e adaptar os seus modelos de negócio, dotando-os de uma maior resiliência aos choques sistémicos e, assim, capitalizando todas as oportunidades inerentes a esta mudança de paradigma.

Artigo de Martim Santos, Diretor de ESG e Diogo Arezes, Manager de ESG, a 7 de março no Greensavers.